Dashiell Hammett – Divisor de águas na literatura policial

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A Literatura policial, ou para ser mais preciso, o gênero policial como conhecemos hoje, nem sempre teve o mesmo formato.

Desde os primórdios, como o francês Émile Gaboriau (1832-1873), o escocês Arthur Conan Doyle, criador do grande Sherlock Holmes (1859-1930) e o americano Edgar Alan Poe (1809-1849), cuja fama de “pai” do romance policial lhe é atribuída com gigantesca propriedade e sabedoria, que a literatura policial se mostra de forma quase fixa, onde os elementos utilizados para a construção e elucidação do mistério, seguiam quase sempre os mesmos padrões.

Nessa época, os conflitos pareciam girar sempre em torno de 3 elementos. Um assassinato, o criminoso de mente tão doentia quanto os que temos hoje, e o detetive, uma figura endeusada e que raramente terminava uma narrativa sem ter o criminoso encurralado e desmascarado.

Outro ponto a ser observado, é que a narrativa se desenvolvia dentro de ambientes fechados, como mansões, bibliotecas e outros espaços que de fato não deixavam margem para um desfecho diferente pelo simples fato de tudo o que o detetive precisava era de uma boa análise da cena do crime, uma dose de bebida ou fumar seu cachimbo e refletir durante algumas páginas para então apontar o culpado.

Isso durou e “funcionou” durante quase um século. Porém, com o tempo, os leitores foram mudando, criminosos precisaram mudar e junto com eles, os detetives.

A grande transformação e a mudança no estereótipo do detetive aconteceu em meados de 1920, quando Dashiell Hammett (1894-1961), um americano de Maryland, cansado da escola aos 14 anos, abandonou os estudos e passou por diversos empregos; foi entregador de jornal, mensageiro, escriturário e estivador até chegar à famosa Agência de detetives Pinkerton, onde adquiriu experiência e fonte de inspiração para grande parte de sua obra.

Mas o que Hammett fez de tão extraordinário?

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Segundo críticos, Hammett foi muito mais do que um simples escritor de histórias policiais. Ele reformulou o modo de se construir a narrativa policial e os personagens que nela desfilam.

O detetive deixou de ser um personagem e passou a ser de fato um humano, um ser com aflições, dúvidas e que possuía inúmeras fraquezas e defeitos. Não era um humano perfeito, idealizado por seus antepassados.

Hammett trouxe os detetives às ruas, para onde os crimes de fato aconteciam.

O reconhecimento maior surgiu após o lançamento de sua obra-prima, o romance O Falcão Maltês, transformado em filme numa clássica versão de 1941, com o galã Humphrey Bogart, no papel principal interpretando Sam Spade.

Spade pode ser considerado o primeiro grande detetive particular do chamado romance noir, vertente conhecida por suas tramas obscuras, criminosos sem nenhum escrúpulo e damas fatais, quase sempre loiras de corpos esculturais.

Na literatura noir, sempre se tem mais mortos do que assassinos. Em alguns casos, o criminoso nem sempre é descoberto. As narrativas de Hammett são marcadas pela frieza, enredos intrincados, pela linguagem seca e por seus diálogos ríspidos, que não demoram muito a terminar num soco ou disparo de revólver.

Por essas e outras características, é que para muitos, Dashiell Hammett foi e ainda é, um dos mais importantes escritores policiais de todos os tempos.

 

 

 

 

Felipe Terra Escrito por:

Professor e amante da arte literária, atua na área da educação desde 2011. Viciado na música de Bach, Mozart e Chet Baker, e na literatura de Raymond Chandler, Ross Macdonald e Paul Auster. Ama escrever e acredita que poderia ler mais, porém, precisa dormir, infelizmente. Consegue passar horas jogando pôquer ou xadrez com os amigos. Degustar pizzas de queijo e bacon é um dos passatempos prediletos em horas de fome extrema.

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