Memória de minhas putas tristes – Gabriel Garcia Marquez

Se você fosse um jornalista, culto, apreciador de arte, música e que estivesse próximo de completar 90 anos.Qual seria o seu desejo? Acredito que ninguém pensaria em algo inusitado. Talvez um bolo de frutas, parentes reunidos ou até mesmo um dia numa praia ensolarada.

O protagonista de Memória de minhas putas tristes, de Gabriel Garcia Marquez, vai mais longe, ao desejar uma garota virgem.Mesmo com uma saúde de ferro aos 89 anos, isso seria o presente mais inusitado, mas Rosa Cabarcas, amiga do nosso caro jornalista, consegue tal façanha. mesmo sendo dona de bordel, não foi tarefa das mais fáceis encontrar uma garota virgem para um velho. Que na primeira noite, não conseguiu absolutamente nada.Pois Degaldina, assim como ele a chamava, estava quase sempre adormecida.

E nesta trama onde amor tornou-se mais importante que diferença de idade, desenrola a história narrada em primeira pessoa.Que apesar de não ter agradado aos críticos, é um grande pequeno livro. Um dos grandes arcos de Memória de minhas putas tristes, de Gabriel Garcia Marquez, é um assassinato que acontece no bordel, levando a relação entre os personagens ao extremo. Alguns temas são abordados com frequência, entre eles a idade, juventude, solidão e amor.

O jornalista sempre pagou por sexo, a vida toda frequentou bordéis. Pois assim achava mais conveniente. O destino então pregou-lhe uma boa peça. Confiram Memória de minhas putas tristes, de Gabriel Garcia Marquez.

Abaixo um trecho desta pérola do Gabu:

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No ano de meus noventa anos quis me dar de presente uma noite de amor louco com uma adolescente virgem. Lembrei de Rosa Cabarcas, a dona de uma casa clandestina que costumava avisar aos seus bons clientes quando tinha alguma novidade disponível. Nunca sucumbi a essa nem a nenhuma de suas muitas tentações obscenas, mas ela não acreditava na pureza de meus princípios.

Também a moral é uma questão de tempo, dizia com um sorriso maligno, você vai ver. Era um pouco mais nova que eu, e não sabia dela fazia tantos anos que podia muito bem estar morta. Mas no primeiro toque reconheci a voz no telefone e disparei sem preâmbulos:

– É hoje.

Ela suspirou: Ai, meu sábio triste, você desaparece vinte anos e volta só para pedir o impossível. Recobrou em seguida o domínio de sua arte e me ofereceu meia dúzia de opções deleitáveis, mas com um senão: eram todas usadas. Insisti que não, que tinha de ser donzela e para aquela noite. Ela perguntou alarmada: Mas o que é que você está querendo provar a si mesmo? Nada, respondi, machucado onde mais doía, sei muito bem o que posso e o que não posso.

Ela disse impassível que os sábios sabem de tudo, mas não tudo: Virgens sobrando neste mundo só os do seu signo, dos nascidos em agosto. Por que não encomendou com mais tempo? A inspiração não avisa, respondi. Mas talvez espere, disse ela, sempre mais sabichona que qualquer homem, e me pediu nem que fossem dois dias para revirar o mercado a fundo. Eu repliquei a sério que numa questão dessas, e na minha idade, cada hora é um ano. Então não tem jeito, disse ela sem o menor fiapo de dúvida, mas não importa, assim é mais emocionante, merda, deixa que eu telefono em uma hora.

[Memórias de minhas putas tristes – Garcia Marquez]

Diego Fernandes Escrito por:

Bebedor desenfreado de café, Diego é desenvolvedor front-end e professor. É o fundador do Duofox. Na literatura não vive sem os russos Tolstói, Dostoiévski e Anton Tchekhov e consegue "perder" tempo com autores da terra do Tio Sam, Raymond Chandler e Melville. Acredita que a arte de maneira geral é a única forma de manter o ser humano pelo menos acordado, longe do limbo que pode levar a humanidade à Encruzilhada das Almas.

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