Primeiros contos, a genialidade precoce de Truman Capote.

Sutileza. Essa talvez seja a melhor palavra para definir Os primeiros contos de Truman Capote. Reunidos em um livro inédito, não só no Brasil, mas também em solo americano, os textos de Capote, um dos principais autores do século XX, trazem os leitores uma boa dose de sentimentalismo, decepção, amor e por que não, um pouco de suspense?

O livro, lançado no primeiro semestre desse ano no Brasil, pela Editora José Olympio, traz 14 escritos do então jovem Truman Capote, que sempre declarou abertamente “Comecei a escrever quando tinha oito anos. Assim do nada, sem qualquer exemplo a seguir. Não conhecia ninguém que escrevesse; na verdade, conhecia poucas pessoas que soubessem ler.”

Embora Capote seja hoje mundialmente conhecido por sua mais brilhante obra, A Sangue Frio, não podemos deixar de reconhecer que esses “contos rascunhados”, e que até 2013 estavam “esquecidos” nos arquivos da biblioteca pública de Nova York, trazem a marca precoce do genial escritor e jornalista que Capote foi.

capote

Os temas dos contos são diversos. O clima pacato de cidadezinhas do interior americano, onde as pessoas parecem conhecer a vida de todos, florestas onde garotos se divertem caçando bandidos fugitivos, senhoras solitárias e que desejam apenas morrer em paz, até a fuga desesperada de uma doente mental, que busca abrigo na casa de uma amiga para escapar de um linchamento coletivo.

As frases curtas e cheias de significado são uma marca da prosa de Capote. Pode-se dizer que seus textos são rasos e vazios, mas é exatamente daí que brota todo o significado de sua escrita. Nada do que o jovem Truman, com menos de 22 anos escreveu nos contos desse livro quer dizer realmente o que está escrito.

Ao terminar a leitura do conto Despedida, que abre o volume, nos deparamos com dois amigos, Jake e Tim, que provavelmente tiveram vários problemas no passado, mas que estão unidos por um propósito maior.

Um quer voltar para casa, o outro, aparenta insistir em uma vida errante, à esmo, de condado em condado, gozando a liberdade. O desfecho é tão banal e intrigante que nos desperta para ler novamente e tentar encontrar as respostas para os fatos que levaram os dois amigos, com almas e extintos tão opostos, a se unirem.

Outro texto merece destaque, como “O estranho íntimo”, onde temos um tema bastante comum na literatura, uma velha senhora, deitada, repensando sua vida, em meio a delírios, recebe a estranha visita de um jovem belo e bem vestido, para uma conversa um tanto incomum.

Muitos críticos costumam dizer que existe uma lista de escritores que já nascem com talento para escrever. Truman Capote entra facilmente na lista. Sua forma de observar e recriar ambientes, construir personagens e nos fazer pensar sobre as atitudes humanas é única. Isso se não o compararmos, como contista, com o talentoso Hemingway, que deixou em sua teoria do iceberg, um ponto e partida para entendermos a escrita Capotiana. Segundo essa teoria, é justamente no não dito que encontramos os significados e a base sobre a qual as histórias são construídas. Portanto, não se espante se ao terminar a leitura dos contos, sentir a necessidade de ler novamente, pois esta, parece ser exatamente a intenção desse gênio da literatura americana.

 

Felipe Terra Escrito por:

Professor e amante da arte literária, atua na área da educação desde 2011. Viciado na música de Bach, Mozart e Chet Baker, e na literatura de Raymond Chandler, Ross Macdonald e Paul Auster. Ama escrever e acredita que poderia ler mais, porém, precisa dormir, infelizmente. Consegue passar horas jogando pôquer ou xadrez com os amigos. Degustar pizzas de queijo e bacon é um dos passatempos prediletos em horas de fome extrema.

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