João Paulo Martino , mestre em história, fala de sua vida de escritor

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1-Quem é João Paulo Martino?

Formado em história pela Universidade de São Paulo, fez posterior mestrado em História da República, defendendo tese sobre a Revolução Constitucionalista, mais conhecida como a Revolução de 1932.

2-Quando a literatura começou a fazer parte de sua vida?

Desde muito cedo me interessei pelas palavras e pela literatura, mas foi a partir do colegial que comecei escrever alguma coisa. Naquele tempo a prefeitura de Atibaia organizou um concurso literário, participei e fui classificado. Creio que foi em 1986 ou 1987.

O concurso foi um estímulo. Na mesma época organizei um jornalzinho literário chamado Novos Tempos, na base do xerox, difícil era dinheiro para postar, mas foi bastante interessante pois tomei contato com vários escritores alternativos que se correspondiam comigo.

3-O que levou você a cursar História?

No último ano do colegial fui estudar no Objetivo em São Paulo, era tipo um cursinho junto com o ultimo ano. Lá tive contato com uma excelente professora de Geografia que muito me influenciou para a área de humana. Fiquei até na dúvida se faria Geografia ou História, mas logo percebi que meu interesse era a História mesmo. Entrei na USP em 1989, o ano do bicentenário da Revolução Francesa.

Naquele ano também tivemos a primeira eleição para presidente após a ditadura. Foi muito bacana.

4-Fale um pouco sobre seu livro sobre a revolução de 1932 – São Paulo em Armas?

 O livro é o resultado de minha tese de mestrado sob a orientação do professor Edgard Carone. Neste trabalho procuro evidenciar as diferentes visões sobre o assunto. O que foi na verdade a Revolução de 1932? No trabalho não respondo nada, apenas dou alguns elementos para que o leitor se situe e tire suas conclusões. O professor Carone foi um grande nome entre os historiadores brasileiro, sempre teve muita paciência comigo, ensinando a pesquisar, a questionar as fontes, sou-lhe muito grato pelo incentivo.

5- Que espaço a literatura ocupa no seu cotidiano?

Trabalho com livros usados e gosto de ler. Separo sempre alguns momentos do dia para a leitura. Prefiro história e biografias, ficção leio pouco, não que não goste, é por falta de tempo mesmo.

6- Que livro os brasileiros deveriam ler com extrema urgência?

Há tantos livros que o brasileiro deveria ler com extrema urgência. Aqui no sebo, cada vez que me perguntam uma indicação eu fico até meio sem jeito, pois as pessoas pedem alguma referência de livros, mas não querem sair do que já estão acostumadas. Mas eu poderia dizer que lessem Casa Grande e Senzala do Gilberto Freire e História econômica do Brasil de Caio Prado Jr. , já é um bom começo para se entender o nosso país.

7-Como é seu fluxo de trabalho como escritor?

Não sou um escritor disciplinado, vou fazendo leituras de temas que me interessam, as vezes dá para escrever alguma coisa sobre o assunto. No momento estou pesquisando e lendo sobre a revolução de 1924 em São Paulo.

8- 5 livros, 5 filmes que deveríamos ler/assistir antes de morrer?

Filmes:

A festa de Babette, Uma cidade sem passado, Cinema Paradiso, Ladrões de bicicleta, Parente é serpente. Você falou em cinco filmes mas tem um filme japonês dos anos 50 chamado “24 olhos” , merece também entrar na lista.

Livros:

As veias abertas da América Latina de Eduardo Galeano, Os protocolos dos sábios de Sião, Hiroshima de John Hersey, Dom Quixote de Miguel de Cervantes, A luneta mágica de Joaquim Manuel de Macedo.

9- Que defeito é capaz de destruir ou comprometer um livro?

O autor ser um chato de marca maior. Pegue um tema interessante quando escrito por um cara chato, é uma desgraça completa. Eu lembro que quando estava no colegial eu tinha lido um livro muito curioso sobre a Idade Média do Ivan Lins (não se trata do cantor, mas de um homônimo). Pois muito bem quando entrei no curso de História já fui fazer História Medieval I. O professor indicou dois livros : História Medieval do Jacques Hers e um outro de História Antiga do Paul Petit. Os dois autores pareciam que tinham estudado pela mesma cartilha, pois os livros eram uma sucessão de datas e fatos que desinteressavam qualquer um. Autor chato sempre aborda um assunto do jeito mais cacete possível, fica se pegando em bobagens, não têm remédio.

10-Dica para os marinheiros de primeira viagem? Como começar a escrever com estilo? Se possível, indique uma gramática ou livro que inspire a escrever.

Escreva sobre assuntos que lhe interessam, leia bastante (sempre ajuda). Procure retratar assuntos que lhe toquem de alguma forma, seja sincero no que escreve, o estilo vai surgir naturalmente com o tempo. Não se preocupe muito com as críticas, sempre há gente que gosta e que não gosta do que você fizer, seja escrevendo ou fazendo qualquer outra coisa. Lembre-se que você não tem obrigação de agradar todo mundo.

Livros do escritor:
1932 – São Paulo em Armas! [eBook Kindle]
Rua da Saudade [eBook Kindle]
Monarquia x República [eBook Kindle]

Diego Fernandes Escrito por:

Bebedor desenfreado de café, Diego é desenvolvedor front-end e professor. É o fundador do Duofox. Na literatura não vive sem os russos Tolstói, Dostoiévski e Anton Tchekhov e consegue "perder" tempo com autores da terra do Tio Sam, Raymond Chandler e Melville. Acredita que a arte de maneira geral é a única forma de manter o ser humano pelo menos acordado, longe do limbo que pode levar a humanidade à Encruzilhada das Almas.

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