Alcóoliques – Cana, veneno, fúria e diy

1-Antes de qualquer coisa, fale um pouco sobre o surgimento do Alcoóliques?
Isaac Loco: A banda surgiu em 2014, quando eu, o Thiago e o Bruno Pacheco fizemos uns ensaios pra tocar numa festa. Já havíamos tocado juntos na banda Traumas, mas isso foi em 2003. Nessa época conhecemos o Rodrigo na cena rock de SP, através de um colega da faculdade, o Filipe Ribeiro. Eles tocavam juntos na banda Johnny Apgar Zero. Ficamos amigos, fizemos uns shows juntos. Em 2013 começamos o projeto Tendal Independente, no Tendal da Lapa. Voltando pra 2014, depois dessa festa, resolvemos chamar o Rodrigo pra banda, e mais duas amigas, a Lia Urbini e a Aruana Marcondes. A Lia saiu logo no começo de 2015. Ficamos como quinteto até o início de 2017, quando o Bruno e a Aruana saíram. Aí o Rodrigo migrou da guitarra pra bateria. Viramos um trio.

2- Quais as influências da banda? 
Isaac Loco: Liberdade, amizade, cannabis e álcool.
Thiago Fonseca: Más influências.
Rodrigo Romani: Acho foda a sonoridade que rolou nos 90’s, alternativo, punk e grunge… pra mim foi a melhor década pro rock e é minha maior influência junto com alguns clássicos mais psicodélicos.

3- A sonoridade vai além do punk, embora seja a influência mais perceptível, fale um pouco sobre a sonoridade da banda?
Isaac Loco: Deixamos nossa imaginação fluir e as melodias vêm. Não tentamos imitar alguém ou nos enquadrar em algum estilo ou gênero. Fazemos o que conseguimos, tentando fugir da mesmice. É o que eu não gosto em música, repetição.  
Thiago Fonseca: O lance é compor. As músicas dos outros já existem, então queremos criar as nossas. Às vezes alguém traz alguma ideia mais ou menos pronta, mas que acaba ficando bem diferente no final – isso quando tem final, pq muitas vezes muda o tempo todo. Quando gravamos, é só a versão daquele dia. Outras vezes, as músicas nascem das jams que fazemos chapados. Considerando nossos limites técnicos, a gente vai tocando junto algumas ideias até ver se sai algo que presta. 
Rodrigo Romani: Então, pra mim a sonoridade da banda é o que a gente consegue tirar com os equipamentos e as habilidades que temos.

Alcóoliques

4- Tocar com gerador? Explica de que forma rola estes sons na rua?
Isaac Loco: Uma maneira de sermos independentes, autônomos. É um saco ter que correr atrás de bar pra tocar, além do que, muitas vezes saímos no prejuízo, tem bar que não paga nem uma cerveja pros músicos. É foda. Tocar na rua também é importante para ocupar os espaços públicos com arte e cultura, um movimento essencial numa cidade como São Paulo, onde tudo se resume à correria, miséria e poluição. 
Thiago Fonseca: É tocar pra quem talvez nunca fosse ouvir nosso som, em vez de só tocar pros amigos ouvirem. Mas é também tocar com os amigos. Muita gente tá fazendo isso. Literalmente já nem dá mais pra chamar de underground, porque não é mais subsolo. As bandas estão nas ruas, temos que ocupar as ruas.
Rodrigo Romani: Foi a solução pra podermos tocar, porque não temos mais disposição pra ir pedir data em bar. A gente toca na rua e quando alguém convida pra um bar a gente toca também.

5- Os discos “Ao vivo no estúdio alcoólico Imirim volume 1 e 2”  foram gravados de que forma? Nos fale um pouco sobre o processo de gravação destes registros?
Isaac Loco: Nós gravamos em casa mesmo, com os equipamentos que temos. 
Thiago Fonseca: Com equipamentos que fomos comprando ao longo da vida e das bandas. Somos velhos, isso ajuda.
Rodrigo Romani: Isso… e todo o processo de montagem e produção é feito por nós três, sem qualquer interferência externa, porque nosso maior objetivo gravando é deixar o som o mais próximo possível do som que fazemos quando tocamos ao vivo. O único processo mais individual e no qual pegamos dicas e opiniões, principalmente do André Astro da O Grande Ogro e do Bruno Gozzi da Porno Massacre é o de mixagem e masterização, então eu dou uma mixada e mando pro Isaac e pro Th sentirem e falarem o que tá bom e o que precisa mudar. A mesma coisa com a masterização. Acho que nossa característica mais peculiar que a gente vai aprendendo enquanto faz, então tem muito teste de captação, pré-produção e tudo. Na mixagem e masterização também, cada vez que faço é no ouvido mesmo, comparando com algum disco ou som de uma banda específica ou pegando o timbre de cada instrumento de vários discos diferentes pra fazer um saladão. 
Por exemplo, o EP de estréia foi mixado ouvindo o primeiro disco dos Ramones, a disposição dos instrumentos na música e a quantidade de faixas na mixagem foi uma, já o segundo disco foi ouvindo o Never mind the Bollocks, trabalhei um pouco mais com a guitarra com o mesmo take, mas variando o pan, o volume e um pouquinho a equalização entre elas, além de buscar buscar um melhor equilíbrio entre os instrumentos e vozes. Basicamente é isso, cada disco acaba saindo diferente por não ter uma receita pronta de captação, mixagem e masterização. 
Thiago Fonseca: Ou seja, se alguém gostar é sorte.
 

6-Diz aí, 5 livros/HQ’s, 5 filmes e 5 discos favoritos que você levaria para uma ilha deserta?

Thiago Fonseca: Falamos que somos velhos, né?  Isso é coisa da nossa juventude, mídia física. Acho que um jovem hoje nem pensa em poucos livros, filmes e discos. Ele levaria tudo.
Rodrigo Romani: Aí é complicado bicho, acho que eu baixaria 1T de som e 1T de filme e série em app de streaming e uma cacetada de livros em PDF ahahaha.
Thiago Fonseca: R2 acha que é shóvem.
Rodrigo Romani: Ahahaha né não, é que eu enjoo mesmo. Só de pensar em ouvir, assistir ou ler a mesma coisa por sei lá quanto tempo já dá pânico rsrs.
Isaac Loco: Rsrs. 5 é muito pouco mesmo, mas vou fazer essa:  
livros de dostoievski, machado de assis, saramago, nietzsche, bakunin; 
filmes de stanley kubrick, jean-luc godard, ingmar bergman, woody allen, david lynch;
discos de bach, robert johnson, beatles, cartola, chico science.

7-Qual mensagem/conselho você deixaria aqui para bandas iniciantes? De que forma podem produzir seus discos e divulgá-los?
Isaac Loco: Faça você mesmo: autonomia e autogestão. Não dependa do outros pra fazer sua música. 
Thiago Fonseca: Parafraseando Marx: A música do século XXI não pode tirar sua poesia do passado, e sim do futuro.
Rodrigo Romani: Aprendam a não depender de ninguém pra fazer seu som! Aprendam a produzir material, a montar palco, a captar, a mixar e masterizar, a porra toda. E não esperem ter grana pra comprar equipo foda, porque vai acabar perdendo tempo. Compre equipamento nacional mesmo pra ir aprendendo, dá pra achar uns bons se pesquisar bem e vai juntando grana pra ir melhorando aos poucos. 

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Diego Fernandes Escrito por:

Bebedor desenfreado de café, Diego é desenvolvedor front-end e professor. É o fundador do Duofox. Na literatura não vive sem os russos Tolstói, Dostoiévski e Anton Tchekhov e consegue "perder" tempo com autores da terra do Tio Sam, Raymond Chandler e Melville. Acredita que a arte de maneira geral é a única forma de manter o ser humano pelo menos acordado, longe do limbo que pode levar a humanidade à Encruzilhada das Almas.

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