Bichano Records – O selo carioca para fãs de HC melódico e suas vertentes

1-Fale sobre a Bichano Records, quando foi fundada e porque possui este nome?

A Bichano ganhou vida no começo de 2014, após uma viagem à São Paulo em que fiquei na casa do meu amigo e guru do “do it yourself” Marcelo Mamaa (doppelgangers!, E a Terra Nunca Me Pareceu Tão Distante). Eu já tava na pilha de começar um selo porque acompanhava o trabalho de pequenos selos da gringa, como a Driftwood Records, Too Far Gone Records, etc., especializados em lançar bandas pequenas em fita K7 e vinil. Eu pensava: “eu posso fazer isso também!”, aí o mamaa me deu o empurrão final para fundar a Bichano. O nome veio pra combinar com a imagem que queria usar de logo, o gatinho usando uma camisa do Title Fight criado pelo Guilherme Freitas.

2-Como é a cena no Rio de Janeiro? O Lê Almeida com Escritório costuma agitar por aí, não é?

Cara, aos trancos e barrancos a gente tem conseguido sobreviver. O Escritório, da Transfusão Noise Records simplesmente revolucionou o rolê por aqui. O Lê sempre abre o espaço pra nós e pra uma porrada de bandas novas do Brasil todo, sem ele muita coisa não aconteceria. Pra quem não sabe, o Escritório é um quartinho minúsculo no centrão da cidade, mas que é o lugar mais acolhedor da Terra, você se sente teletransportado pra Portland dos anos 90, onde tudo tava acontecendo.

Outros dois picos muito importantes são a Audio Rebel, casa lendária em Botafogo que já recebeu shows do Ian Mackaye (quando ele veio com o The Evens), Joe Lally (também do Fugazi), Gigante Animal, Polara, entre muitos outros; e o pessoal da Parte Cinza que organiza o “Tente Mudar o Amanhã”, evento com shows, palestras e exposições que acontece na Dona Vegana, uma lanchonete vegana também no centro da cidade. É ótimo assistir um show comendo um salgadinho vegan.

Ovazio
Ovazio no Escritório

3-Como é ter um selo na ativa em 2015? Há uns 15 anos já achávamos um ato heróico, atualmente deve ser muito mais difícil?

Bom, a Bichano funciona muito mais como um hobby do que como uma empresa. Quando dá pra fazer as coisas a gente faz. DIY é assim, tem dia que dá e tem dia que não dá. Mesmo assim, é um tanto difícil: não se vende mais CD como antigamente, fica mais difícil pagar certos investimentos que são o que viabilizam as coisas.

A galera de banda e de selo tá sempre tendo que se adaptar às mudanças desse mundo cada vez mais caro, acelerado e digital, tendo que pensar em soluções criativas pra se manter vivos (shows de rua, vender rango vegan nos eventos, fazer merch com camisa de brechó, etc.)

4-Como funciona o trabalho no selo?

A Bichano é composta apenas por mim, mas nada seria possível sem a ajuda e o apoio de dezenas de bandas, amigos e contatos espalhados literalmente pelo mundo. “A gente” tenta atuar em várias frentes no que diz respeito às artes independentes, mas nosso foco é mesmo em música, show e zine.

Eu tenho muitos amigos e amigas que tocam em algumas das minhas bandas favoritas, muitos dos nossos lançamentos se encaixam nessa categoria. Mas também rola de gostar demais de alguma banda do outro lado do país, que eu mal conheço as pessoas, e acabar entrando em contato pra saber se não gostariam de fazer parte do selo. Tem também o caso em que alguém que eu não conheço me envia uma banda maravilhosa que eu nunca ouvi falar, e é amor à primeira vista (como foi com os meninos da Memorial, de Curitiba).

Quanto aos shows, a gente tem uma rede de contatos bem extensa por todo o Brasil e até pela América Latina, então eu tento ao máximo colocar essas pessoas em contato. Isso funciona bastante quando uma banda sai em turnê e precisa de um show em algum lugar entre as cidades x e y, por exemplo.

Às vezes a gente faz show de bandas muito queridas, que sempre quisemos ver em nosso Estado, e passamos meses planejando toda a logística (como está sendo a turnê da Nvblado no sudeste), e às vezes é algo de oportunidade, como o show dos costa riquenhos da Overseas que vamos fazer na Audio Rebel numa segunda-feira de setembro: os caras vão acompanhar a turnê sul americana do Title Fight e precisavam de um show de dia de semana depois de tocarem com os caras em São Paulo num domingo.

Overseas

A gente pegou e fez. Quanto aos zines, qualquer pessoa que faça zine pode nos enviar físico ou digitalmente que vamos ter o prazer de copiar e distribuir nos shows em que montamos banquinha ou por correspondência.

Nvblado

5-E a coletânea Diários Emocionais, terá um quarto volume?

Vai ter sim. A “diários emocionais” começou por conta de um grupo sobre real emo no facebook, o mamaa (que eu já citei aqui) deu a ideia de compilar as bandas da galera do grupo e chamar de “diários emocionais” em homenagem às “emo diaries” que a Deep Elm Records costumava lançar.

A Bichano surgiu meio que pra fazer isso acontecer. Desde então, já foram 3 coletâneas só com bandas nacionais que estão ou estavam na ativa na época de lançamento, passeando pelo real emo, screamo, post-hardcore, hardcore melódico, post e math rock, folk, entre outros. Agora no começo de setembro vai sair a 4ª edição, com 20 músicas de 20 bandas que produziram algo em nosso país nos últimos meses (algumas delas inéditas).

6-Quais as bandas do selo, possuem mais destaque entre a galera?

Bicho, não sei. Nós ajudamos a lançar o primeiro disco cheio da Parte Cinza, que é bem cultuada no rolê punk nacional. Aqui no Rio costumam pedir bastante show da galera do post-hardcore de São Paulo: We are Piano, Hollowood e Blues Drive Monster. Também tá rolando uma cena à la Gigante Animal em São Paulo que tá muito ativa, com a Raça e a Ombu. E a Nvblado, que estamos trazendo pela primeira vez ao sudeste agora em setembro e que vamos lançar o próximo disco, que é referência em real screamo no Brasil.

Parte Cinza
Parte Cinza
Parte Cinza
Parte Cinza
Ombu
Ombu na Audio Rebel (RJ) com a E a Terra Nunca Me Pareceu Tão Distante

7-Dicas para iniciantes, que pretendem gravar e viabilizar a distribuição de discos ou ep’s.

APENAS FAÇAM! Se você gosta de alguma coisa que não é muito ativa/não tem aonde você mora, mete a cara e faz, senão ninguém vai fazer por você. Cria uma página no facebook, um bandcamp e já era. Tente colar nos shows, fazer amizades. Se não tiver nada disso na tua área, internet tá aí pra isso. E se precisarem de alguma coisa, podem sempre entrar em contato com a Bichano Records que vamos tentar ajudar ao máximo.

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Diego Fernandes Escrito por:

Bebedor desenfreado de café, Diego é desenvolvedor front-end e professor. É o fundador do Duofox. Na literatura não vive sem os russos Tolstói, Dostoiévski e Anton Tchekhov e consegue "perder" tempo com autores da terra do Tio Sam, Raymond Chandler e Melville. Acredita que a arte de maneira geral é a única forma de manter o ser humano pelo menos acordado, longe do limbo que pode levar a humanidade à Encruzilhada das Almas.

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