Georges Simenon, Sherlock Holmes à moda belga

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Embora tenha nascido em Liège, na Bélgica, em 1903, Georges Simenon deve ser considerado tão francês quanto Balzac, Victor Hugo ou Sartre. O próprio André Gide, na época de surgimento de Simenon chegou a apelidá-lo de o “Balzac de Liège”, tamanha a força de suas obras.

Berço literário da época, a França acolhia artistas de diversas partes do mundo, o que não foi diferente com o jovem Georges Simenon, que com 19 anos, resolveu se aventurar pelo país que usaria de laboratório literário para sua vasta obra.

Georges Simenon era um escritor prolífico.

 Segundo Pierre Assouline, biógrafo do autor, o belga escrevia horas a fio. Chegava muitas vezes a concluir um romance em apenas uma semana. Em uma passagem, produziu uma novela em pouco mais de 25 horas.

Ainda com relação ao seu processo criativo, cabe citar um fato curioso, que ocorreu quando a secretária de Simenon recebeu uma ligação do grande cineasta Alfred Hitchcock. A resposta dela ao grande mestre do cinema foi bem educada, algo como: “No momento ele está ocupado, acabou de iniciar um romance.” A resposta de Hitchcock foi ainda mais absurda. “Tudo bem, eu espero.”

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Os recursos narrativos de Simenon

Com relação aos recursos e elementos narrativos, Simenon não costuma inovar. Seus textos se assemelham muito com relação às tramas e cenários.

Em compensação, nada se iguala a capacidade de recriação de atmosferas, na análise psicológica e no estudo dos aspectos sociológicos das personagens.

Para um leitor já acostumado aos livros de Simenon, é possível perceber o estilo e sua habilidade em descrever sensações, construir diálogos enxutos, quase sempre os unindo a metáforas discretas.

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Maigret, Holmes ou Poirot?

Mas não há como falar da literatura de Simenon sem falar de seu personagem, o comissário de polícia, Jules Maigret, que foi o responsável por colocar Simenon num pedestal.

Diferente de seus “companheiros de profissão” Sherlock Holmes, de Conan Doyle e Hercule Poirot, de Agatha Christie, Simenon não fez de Maigret um gênio.

A figura de Maigret é a de um homem de verdade, e surge na cena policial como um personagem de oposição humanamente “real”, pois a vida que leva é realmente a de um homem socialmente comum. Ele tem uma esposa, algo raro na literatura policial, trabalha na polícia judiciária francesa, seguindo as regras da corporação, não costuma andar armado e muito menos tem agilidade para aplicar golpes de judô em algum criminoso.

Esse conjunto de aspectos faz de Jules Maigret um personagem único na literatura policial. A escola da literatura policial européia teve outros nomes e personagens que significaram alguma coisa dentro do gênero, porém, nenhum deles atingiu o patamar que Maigret.

Felipe Terra Escrito por:

Professor e amante da arte literária, atua na área da educação desde 2011. Viciado na música de Bach, Mozart e Chet Baker, e na literatura de Raymond Chandler, Ross Macdonald e Paul Auster. Ama escrever e acredita que poderia ler mais, porém, precisa dormir, infelizmente. Consegue passar horas jogando pôquer ou xadrez com os amigos. Degustar pizzas de queijo e bacon é um dos passatempos prediletos em horas de fome extrema.

2 Comentários

  1. março 17, 2015
    Responder

    Fica o convite para conhecer o Clube do Crime, página de divulgação do catálogo policial da Companhia das Letras, que está publicando a obra de Georges Simenon no Brasil.

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