Hoje é dia de falar de um livro que é um chute no estômago. Um romance sobre a juventude e que precisa ser lido por qualquer um que acha que não precisa aprender mais nada sobre a vida.
The Outsiders – Vidas sem rumo. Um clássico da americana Susan Eloise Hinton e que virou filme nas mãos do Francis Ford Coppola em 1983.
Esse é um daqueles livros que você fica eternamente arrependido de não ter cruzado com ele na adolescência.
No final de 1967, The Outsiders virou febre nos Estados Unidos. O livro fala da vida de jovens que são obrigados a amadurecer em meio ao cenário duro de brigas entre gangues de uma cidade. Num universo que combina rebeldia e sentimentalismo, essa é uma pequena obra-prima da literatura americana dos anos 60.

Podemos classificá-lo como romance de formação por apresentar uma história onde os protagonistas evoluem, se transformam e amadurecem de maneira poucas vezes vista na literatura dos anos 60 e 70.
A autora, Susan Eloise, com apenas 16 anos, conseguiu escrever um livro que ampliou e modificou a visão de uma geração inteira.
QUEM SÃO OS OUTSIDERS?
Ponyboy, o garoto narrador do livro, vive com os irmãos mais velhos, Darry e Sodapop. Esses ainda tem amigos inseparáveis como Johnny, Steve e Two-Bit. Os garotos são Greasers, os “malandros” e considerados a classe baixa da cidade.
São os arruaceiros? Sim. São tidos como perigosos? Sim, mas eles tem sentimentos. Enquanto isso, os Socs, a outra turma, representa o núcleo riquinho e sofisticado da região onde eles moram. Os Socs sempre se safam e ficam numa boa depois das trocas de soco.
A briga entre esses dois grupos vai além de apenas vaidade e violência para provar quem é o maioral. A encrenca vem do passado obscuro deles. Aliás, conhecemos pouco do passado deles, principalmente dos três garotos, Ponyboy, Darry e Sodapop.

PASSADO OBSCURO E A TRISTE REALIDADE DOS JOVENS
O que sabemos é que eles são órfãos. O mais velho, Darry, mata um leão por dia numa lanchonete fedorenta para sustentar a casa. Sodapop, ganha uns trocados fazendo serviços num posto de gasolina e lavando carros. Ponyboy fica com a parte “chata”, ir bem na escola e ler livros.
É essa a realidade em que cresce o sonhador e crítico Ponyboy. Através do seu olhar, o leitor é guiado por uma história que começa devagar, singela e despretensiosa até, mas que a cada capítulo, vai nos socando a cara até culminar com um forte chute no estômago.
Passamos mal lendo esse livro. Ele nos dá uma surra a cada capítulo. É um nocaute digno de rinque. Não é exagero. Esse é um baita livro carregado de amargura e tristeza.
EGOÍSMO E AMIZADE SÃO ALGUNS DOS TEMAS DO ROMANCE
Os temas desse livro são múltiplos. Fala de egoísmo, mediocridade, hipocrisia, redenção, violência nada gratuita, amizade (isso é o mais nobre desse livro) fala ainda de como não damos valor a algumas coisas e como isso vai nos afetar no futuro.
The Outsiders é um apelo da juventude. Digamos que, se permitir ler esse livro em pleno 2021, para homens e mulheres com mais de 30 anos é dar uma chance para rever conceitos, enxergar coisas que deixamos para trás e fazer da vida algo mais leve.
UMA LINGUAGEM SEM FLOREIOS E CATIVANTE
A linguagem de Susie é simples, cativa e nos prende. O romance possui pouco mais de 210 páginas e vai rolando ladeira abaixo (no bom sentido, claro) do capítulo 3 em diante. A autora garante ensinamentos importantes para a formação do caráter e personalidade de quem se arriscar a cruzar o território que separa os Greaser dos Socs.
Acho que vale destacar passagens significativas do livro. Ele está repleto de frases reflexivas. Nesse trecho, o protagonista, Ponyboy, desabafa consigo mesmo sobre sua relação com o irmão mais velho, Darry.
“Eu mal via Darry como um ser humano. Não ligo, menti para mim mesmo, eu também não ligo para ele. Soda me basta, e ele ia continuar por perto até eu terminar a escola. Não ligo para o Darry. Mas ainda era mentira, e eu sabia. Eu vivo mentindo para mim mesmo. Mas eu nunca acredito.”
Outro trecho que mostra o sentimentalismo e reflexão do personagem Ponyboy.
“Talvez os dois mundos diferentes em que a gente vivia não fossem tão diferentes assim. O pôr do sol que a gente via era o mesmo.”
Numa outra passagem, Ponyboy está mais uma vez reclamando da vida e de seu irmão mais velho, Darry, que havia abacado de lhe dar um soco. Então Johnny, seu amigo, que não tem apoio algum dentro de casa e vive apanhando do pai, solta isso:
“Acho que até prefiro quando meu velho me bate – Johnny suspirou – Porque aí pelo menos eu sei que ele está me vendo. Eu entro em casa e ninguém diz nada. Eu saio e ninguém diz nada. Passo a noite inteira fora e ninguém nem percebe. Pelo menos você tem o Soda. Eu não tenho ninguém.”
Não dá para falar muito mais desse livro pois posso falar além da conta. A leitura é obrigatória não só pelos temas e construção narrativa, mas principalmente pelo fato de ter sido inspirado em eventos que marcaram a juventude da autora.
E por fim, se não pararmos para ler um livro como The Outsiders, talvez nunca venhamos a entender o quanto é importante permanecermos dourados em tempos tão sombrios e carregados de ódio e desilusões.
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