Não é sacrilégio ou exagero dizer que José Saramago é o deus da polêmica.
Há quem enxergue em sua obra um excesso de exibicionismo, em que ele explicita sua visão contra certos aspectos, não só religiosos, mas também políticos e sociais.
Exibicionista e polêmico ou não, certo é que Saramago foi premiado com o Nobel em 1998, por real mérito, devido a tudo o que apresentou em suas obras. A obra Caim, publicada em 2009, traz novamente a visão saramaguiana sobre a religião, onde o autor reconta à sua maneira, a conhecida história de Caim, o primeiro homicida que o mundo conheceu.
Em Caim, Deus, que durante quase toda a narrativa aparece grafado com letra minúscula, é apresentado por Saramago como um ser Divino cruel e que parece não ter controle sobre sua própria criação.
Do outro lado, temos um Caim forte e vigoroso que, mesmo após matar seu irmão, Abel, ainda se sente no direito de irar-se e discutir com Deus a respeito de sua conduta criminosa. Logo após a expulsão de Adão e Eva do paraíso, Caim surge na história sob a forma de guia, conduzindo o leitor através de passagens bíblicas conhecidas, como as de Abraão, Jó e Noé.
Por meio delas, Saramago nos obriga a refletir acerca do poder e existência de Deus. O embate entre Criador e criatura é o fio condutor de toda a narrativa. Um das passagens mais interessantes da narrativa surge logo após o assassinato de Abel, em que Deus, passeando para ver suas “criaturas”, encontra Caim e o questiona.
“Que fizeste com teu irmão, perguntou, e Caim respondeu com outra pergunta, Era eu o guarda-costas de meu irmão, Mataste-o, Assim é, mas primeiro culpado és tu, eu daria a vida pela vida dele se tu não tivesses destruído a minha.”
Esse trecho é apenas o começo da peregrinação de Caim pelo mundo, onde nunca sabemos se Deus virá para salvar ou condenar seus filhos.
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