Coral e Outros Poemas – Sophia de Mello Breyner Andresen

A poeta Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004) é uma das vozes mais importantes da literatura portuguesa, tendo sido a primeira mulher a ser agraciada com o Prêmio Camões em 1999. Repleta de simbolismo e sensibilidade, a antologia Coral e outros poemas, mostra um universo poético abrangente, que inclui a infância e a juventude (nos primeiros poemas), o tempo, as coisas, os seres, a religiosidade e a natureza, principalmente, o mar.

Sua escrita é marcada pelo lirismo e por uma linguagem intimista. Também é possível perceber a influência da literatura clássica e a aproximação com a tradição grega.

Apesar das ruínas e da morte,
Onde sempre acabou cada ilusão,
A força dos meus sonhos é tão forte,
Que de tudo renasce a exaltação
E nunca as minhas mãos ficam vazias.

Sophia de Mello Breyner Andresen

Sophia de Mello Breyner Andresen tinha engajamento politico, dedicou o poema velho abutre ao regime de Salazar em Portugal. A atuação de Sophia em resistência ao salazarismo se firmou não apenas em sua escrita, mas também na Assembleia Constituinte, ao se eleger deputada pelo Partido Socialista, em 1975.

O velho abutre

O velho abutre é sábio e alisa as suas penas
A podridão lhe agrada e seus discursos
Têm o dom de tornar as almas mais pequenas

O mar é um temática muito presente em sua obra, no entanto a Maria Bethânia possui um disco chamado “Mar de Sophia”, de 2006, em que canta o mar e seus símbolos a partir da poesia de Sophia de Mello Breyner.

Maria Bethânia lendo Sophia (“Poema Azul” e “Mar Sonoro”):

Não é nenhuma coincidência já que o mar é a paixão de Sophia e Dorival Caymmi, como ela dizia:

Esses poemas têm a ver com as manhãs da Granja, com as manhãs da praia. E também com um quadro de Picasso. Há um quadro de Picasso chamado Mulheres à Beira-mar. Ninguém dirá que a pintura do Picasso e a poesia de Lorca tenham tido uma enorme influência na minha poesia, sobretudo na época do Coral… E uma das influências do Picasso em mim foi levar-me a deslocar as imagens.

Coral
Ia e vinha
E a cada coisa perguntava
Que nome tinha

***

Chamei por mim quando cantava o mar
Chamei por mim quando corriam fontes
Chamei por mim quando os heróis morriam
E cada ser me deu sinal de mim

Diego Fernandes Escrito por:

Bebedor desenfreado de café, Diego é desenvolvedor front-end e professor. É o fundador do Duofox. Na literatura não vive sem os russos Tolstói, Dostoiévski e Anton Tchekhov e consegue "perder" tempo com autores da terra do Tio Sam, Raymond Chandler e Melville. Acredita que a arte de maneira geral é a única forma de manter o ser humano pelo menos acordado, longe do limbo que pode levar a humanidade à Encruzilhada das Almas.

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