Edgar Allan Poe e a sua Filosofia da Composição

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O poeta francês Charles Baudelaire (1821-1867) foi sem dúvidas um dos maiores admiradores do americano Edgar Allan Poe.

Baudelaire tomou conhecimento da existência de Poe após ler um artigo sobre ele na revista Des Deux Mondes, em meados de Outubro de 1846. Após a leitura do artigo, não teve dúvidas, viu que estava diante de um autor de criatividade singular.

Em resumo, mesmo em meio à vida tumultuada e repleta de conflitos existenciais, Baudelaire decidiu encomendar obras de Poe e traduzi-las, um trabalho árduo, e que de forma impressionante, terminou após 17 anos.

O fato de um poeta da estirpe de Baudelaire considerar Poe um dos maiores de seu tempo só aumenta a importância da leitura de suas obras.

Edgar Allan Poe, além de poeta e contista, foi um grande ensaísta. Suas obras mais conhecidas, Assassinatos na Rua Morgue, O Gato preto, o poema O Corvo e tantos outros, sem dúvida são obras primas do terror e acima de tudo, textos literários modelados e construídos de forma quase transcendental.

Em “A filosofia da Composição”, seu mais famoso ensaio, publicado em 1846, numa revista da Filadélfia, Poe expõe seu processo de composição literária, tomando como exemplo seu mais conhecido poema, O Corvo, publicado um ano antes, e bem recebido pela crítica. No ensaio, mais do que um texto teórico sobre o processo de escrita, Poe apresenta uma série de pontos que influenciam e auxiliam no processo de construção literária.

Segundo Poe, a escrita se inicia com a escolha do efeito que se pretende criar e do caráter original e vivo da ideia, fatores esses, essenciais para atingir o efeito desejo, ou seja, tornar o texto uma fonte de prazer para o leitor.

Uma consideração interessante que Edgar Allan Poe traz em seu ensaio, é a de que, se uma obra literária é grande o bastante para não ser lida numa assentada, ela deve ser repensada.

Poe discorre também sobre as escolhas dos elementos alegóricos do poema, cujo caráter melancólico e sombrio, o obrigou a descartar a hipótese de utilizar um papagaio para assombrar o personagem do poema. A figura do corvo surgiu pelo simples fato de a sonoridade do termo final de cada verso do poema “never more”, se assemelhar ao crocitar da ave mensageira da morte. Esse efeito é fundamental para dar ritmo, emoção e o efeito sombrio a que se propõe o texto Poe.

Para um maior aprofundamento na obra de Poe, nada melhor do que a leitura de seus textos clássicos, como o poema O Corvo e o ensaio em questão, A Filosofia da Composição, esse último, sem dúvidas um tratado sobre a estética literária e uma obra imprescindível para o entendimento da poética e prosa edgariana.

O livro Poema e ensaios – Edgar Allan Poe, que pode ser encontrado no site da Top Livros é uma excelente edição, e traz os principais poemas e ensaios do autor. Um livro obrigatório para quem deseja entender e analisar o processo criativo de um dos maiores escritores que o continente americano nos deu.

 

Felipe Terra Escrito por:

Professor e amante da arte literária, atua na área da educação desde 2011. Viciado na música de Bach, Mozart e Chet Baker, e na literatura de Raymond Chandler, Ross Macdonald e Paul Auster. Ama escrever e acredita que poderia ler mais, porém, precisa dormir, infelizmente. Consegue passar horas jogando pôquer ou xadrez com os amigos. Degustar pizzas de queijo e bacon é um dos passatempos prediletos em horas de fome extrema.

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