Patrícia Melo, um toque feminino na cena policial brasileira

neschling-patricia

 Para os viciados em um bom romance policial, Elogio da Mentira, de Patrícia Melo (Sem trocadilhos baratos) é bala na agulha.

Um ponto importante a ser observado é que, desde 63, com a publicação de Os prisioneiros, do bom e velho Rubem Fonseca, a cena literária policial brasileira está ganhando cada vez mais autores dispostos a reinventar o gênero que para alguns, estava caindo no limbo. Ledo engano.

Na leitura dessa semana, meti a cara no Elogio da Mentira, da Patrícia Melo. Para ser sincero com vocês, confesso, sem machismo ou pretensão, que torcia o nariz para essa escritora. Morri pela boca, fui tragado pela narrativa dela.

Patrícia constrói uma trama em que as chances de abandonar o livro é quase nula. Sempre fui fã de começos geniais, daqueles que na primeira linha o autor te dá um soco na cara e diz, rindo como o velho Bukowski, “Vamos lá idiota, leia essa merda e surte com o final.”

O livro faz uma crítica ao mundo editorial, criando situações em que o personagem-escritor tem diversos dos seus enredos rejeitados

por seu editor, um sujeito que valoriza somente o que é comercial e lucrativo. Além disso, Patrícia faz uma homenagem aos mestres do gênero, como Edgar Allan Poe, James Cain e Rubem Fonseca para quem ela dedica o livro.

Mas vamos ao enredo. José Guber é um escritor explorado por seu editor e tem um peculiar interesse por cobras. Em suas visitas ao Instituto Soroterápico, conhece Fúlvia Melissa (raio de nome) e começam a ter um caso. Fúlvia é casada e seu marido, um sujeito bipolar, a espanca regularmente, tornando as coisas mais difíceis.

Entre um livro rejeitado pela editora, noites de amor com Fúlvia e visitas para observar cobras peçonhentas, nasce a ideia do crime perfeito. Como todo crime perfeito necessita de um morto e nenhuma pista, Fúlvia e José decidem se libertar de Ronald, o marido violento.

O livro vai ganhando volume à medida que, ao planejar o assassinato de Ronald, o casal percebe que matar alguém não é tão simples como nas histórias de Raymond Chandler e Ross Macdonald, e o que era para terminar bem, foge do controle.

Com linguagem fluente, combinação de elementos não muito comuns dentro do gênero e diálogos à La Saramago, Patrícia Melo constrói um livro peculiar e impossível de largar.

Felipe Terra Escrito por:

Professor e amante da arte literária, atua na área da educação desde 2011. Viciado na música de Bach, Mozart e Chet Baker, e na literatura de Raymond Chandler, Ross Macdonald e Paul Auster. Ama escrever e acredita que poderia ler mais, porém, precisa dormir, infelizmente. Consegue passar horas jogando pôquer ou xadrez com os amigos. Degustar pizzas de queijo e bacon é um dos passatempos prediletos em horas de fome extrema.

seja o primeiro a comentar

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *