Sonhar não paga pedágio

O calor infernal consegue derreter aos poucos os miolos que me restam e pra refrescar ao invés de água porque não algo mais saboroso e calórico para satisfazer meu cérebro?

Sentada na rodoviária (minha segunda casa nos últimos meses) pensando na vida, lá estava eu, olhando a “banda passar” (espero que entenda a referência), ao que meus olhos passaram por uma mulher pedindo dinheiro. Em poucos minutos ela estava parada na minha frente pronta para iniciar o discurso automático, educadamente me pediu atenção, claro, sem saber se realmente eu desejava fazê-lo.

No mesmo instante o celular toca e foi neste instante que me perdi entre ouvir a reprodução verborrágica e polidamente ensaiada ou atender a ligação. Pedi licença e fui tateando o celular na bolsa, a mulher esperou que o fizesse.

Enquanto falava ao telefone peguei a carteira e retirei R$ 0,25, uma moeda dourada brilhante, parecia aqueles chocolates que a gente come quando é pequeno. Desliguei o telefone e antes que ela começasse a falácia eu entreguei a moeda a ela. Ela fechou a boca e suspirou.

– Você pode me dar um pouco? Só um golinho. Disse a mulher.

Sem pensar muito estiquei o braço e entreguei o copo. Uma velha cética me olhava. Finalmente com a boca melada a mulher me entregou o copo.

Olhei para o canudo e fiquei na dúvida de compartilhar da saliva, eu não quis dar asas a imaginação e fui ávida e suguei o sagrado milkshake.

Não me lembro dela ter agradecido, mas quando levantei os olhos para o horizonte lá estava ela, pedindo dinheiro a outra pessoa.

A senhora do meu lado comentou:

– Que ousada não!?

Retruquei:

– As pessoas são assim quando tudo lhe é negado, resta apenas a chance de pedir. Sonhos são grátis.

A senhora deu de ombros e foi para a fila. A longa fila não foi problema para ela que ficou logo no início sem sequer pedir licença. Sim, era um direito dela, contudo não pude deixar de pensar:

– Que ousada não!

A ótica sempre se distorce conforme nossos desejos e necessidades. Meu corpo estava satisfeito e meu paladar agradecido, mas minha mente fervilhava de ideias, levantei e joguei o copo no lixo.

Francine Oliveira Escrito por:

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