Um grito de amor do centro do mundo de Kyoichi Katayama

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Para quem está acostumado a ler dramas e a ver filmes japoneses, Um grito de amor do centro do mundo de Kyoichi Katayama, é um ótimo livro. Confesso que me surpreendi ao ler esse pequeno e brilhante livro em apenas três dias. A narrativa de Katayama corre solta, sem distrações e com muitas reflexões sobre as dúvidas que povoam a cabeça de adolescentes do mundo inteiro.

O romance conta a história de dois jovens, Sakutarô e Hirose Aki. Ambos se conhecem ainda no ensino fundamental, numa escola da pacata cidadezinha onde vivem às margens do oceano. Narrado em 1ª pessoa, a trama é tecida em fragmentos. Ora futuros, ora passados.

Quem narra a história é Sakutarô, o jovem de dezesseis anos, que ao longo de sua existência entre a escola, a casa do avô e a sua casa, não aparenta conhecer mais nada além das fronteiras do povoado. Porém, a convivência com Aki, a garota mais linda e popular da escola, aumenta, e com ela, sua paixão, que depois acaba por se tornar um profundo e gigantesco caso de amor.

Sakutarô nos conta sobre sua infância e adolescência num ritmo leve e suave. O texto é repleto de reflexões sobre como os adolescentes enxergam o mundo e as questões primordiais da vida adulta. Como a vida e a morte, sobre amar e perder.

Essas reflexões se tornam ainda mais profundas quando Aki descobre que está  doente. A vida dos dois parece entrar num turbilhão. Os dias passam rápidos e tudo o que lhes resta é o amor. Entretanto, o que a vida reserva para os dois é algo maior.
Numa das passagens mais significativas do livro, Sakutarô está conversando com seu avô sobre a existência de um “paraíso”.

Meu avô, parecendo preocupado, comentou:
“Você é muito pessimista, não acha?”
“Não é de hoje que penso assim. Não entendo o motivo de inventarem essa coisa de outro mundo ou de paraíso.”
“Por que você acha que inventaram isso?”
“Para explicar a perda de pessoas amadas.
“Você acha?”
“O homem inventou o além e o paraíso porque muitas pessoas queridas morreram. Afinal, quem morre é sempre o outro; nunca é você, não é assim? É por isso que quem está vivo tenta resgatar seus mortos cultivando essas ideias.”

Vale destacar que, apesar de sabermos desde o começo o que acontecerá no final, Um grito de amor do centro do mundo não é um livro ruim, muito menos desanimador, mesmo por que, nada na história de Aki e Sakutarô surge por acaso. E o grande mistério sobre a vida e a morte pode habitar os mais singelos e obscuros cantos do coração humano.

Um grito de amor do centro do mundo de Kyoichi Katayama, um livro para adolescentes e adultos. Um romance comovente, sobre paixões e perdas, e acima de tudo, uma história em que o amor desafia a morte.

Felipe Terra Escrito por:

Professor e amante da arte literária, atua na área da educação desde 2011. Viciado na música de Bach, Mozart e Chet Baker, e na literatura de Raymond Chandler, Ross Macdonald e Paul Auster. Ama escrever e acredita que poderia ler mais, porém, precisa dormir, infelizmente. Consegue passar horas jogando pôquer ou xadrez com os amigos. Degustar pizzas de queijo e bacon é um dos passatempos prediletos em horas de fome extrema.

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