Vidas em quarentena

A sensação de que algo muito ruim está para acontecer nos deixa paralisados. Não é o simples medo que nos choca, é essa afobação por mais um dia de alegria desenfreada. O mundo está passando por um processo doloroso.

As vidas em quarentena, que duram 15 dias, nos tornam indivíduos menos interessantes. As fotos que postamos não parecem ser as mesmas de antes. Sorrisos e festas que aglomeravam mais falsidade e menos sinceridade agora não passam de lembranças esmaecidas por um mal silencioso e invisível.

É estranho pensar que as mesmas pessoas que abraçavam um e outro até ontem, hoje se escondem atrás das janelas, com receio de respirar o mesmo ar que as almas que vagueiam sem rumo sobre o asfalto escaldante. Ficar em casa é obrigação. Antes era tédio, monotonia.

O tempo é de repensar. Pensar de novo e de novo no que fizemos para aquele colega no trabalho ou aquele familiar distante que não vemos faz tempo. Analisar os escombros que amontoamos desde a infância e que agora mais do que nunca nos atrapalham para desviar das epidemias que recheiam as esquinas e esvaziam as prateleiras.

Sombras vem e vão. A cura pode estar em cada um de nós, ou ainda não foi inventada. Mas certo é, as semanas continuarão correndo e trazendo os gastos, os presentes caros e os sorrisos enganosos. Não há muito o que fazer, só mergulhar no interior de nós mesmos para buscar força e esperança. Esperança de um amanhã diferente, sem máscaras ou abraços que trazem mais coisas ruins do que boas.

Felipe Terra Escrito por:

Professor e amante da arte literária, atua na área da educação desde 2011. Viciado na música de Bach, Mozart e Chet Baker, e na literatura de Raymond Chandler, Ross Macdonald e Paul Auster. Ama escrever e acredita que poderia ler mais, porém, precisa dormir, infelizmente. Consegue passar horas jogando pôquer ou xadrez com os amigos. Degustar pizzas de queijo e bacon é um dos passatempos prediletos em horas de fome extrema.

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