As cinzas do ócio

Outro dia me joguei no mato. Na roça da tranquilidade. Fiquei largado em frente a lareira, vendo o fogo consumir a lenha. Lá fora o dia era o mesmo mas o tempo era outro.

O tempo no mato é diferente do tempo daqui. Isso é óbvio. Por isso sumir da muralha de concreto e fechar os olhos para as telas é tão prazeroso quanto pisar na areia descalço num dia quente de verão.

Resolvi fugir da loucura e me jogar no ócio. Ler, dormir, caminhar pelo mato, comer fruta e não pensar em nada. Essas coisas todas, que custam tão pouco às vezes, e mesmo assim nunca fazemos muita questão.
Na real até fazemos, confesso, mas o tempo leva tudo pro ralo. Mas e a lenha sendo consumida pelo fogo?

A lenha somos nós. É tudo a mesma coisa. Fomos consumidos ontem, seremos hoje e amanhã. É um colocar lenha na fogueira dia a após dia. Gastamos tudo na busca incessante para limpar os nomes e pagar boletos que transformam em cinzas os nossos salários e o nosso cérebro em carvão.

Aí, quando saímos da tranquilidade, encaramos ondas de e-mails e voltamos ao trabalho, sempre acabamos lembrando da lenha queimando na lareira, e do vento, batendo nas árvores lá fora. E é aí que a tristeza bate e o relógio não sossega um minuto sequer.

Felipe Terra Escrito por:

Professor e amante da arte literária, atua na área da educação desde 2011. Viciado na música de Bach, Mozart e Chet Baker, e na literatura de Raymond Chandler, Ross Macdonald e Paul Auster. Ama escrever e acredita que poderia ler mais, porém, precisa dormir, infelizmente. Consegue passar horas jogando pôquer ou xadrez com os amigos. Degustar pizzas de queijo e bacon é um dos passatempos prediletos em horas de fome extrema.

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