O único motivo de tudo ali ainda existir era o garçom

Outro dia, passei em frente a um barzinho, na esquina, perto de casa. Era noite aberta, de lua grande. A enorme quantidade de pessoas na calçada, juntas, bebendo e sorrindo, falando alto e gesticulando me deixou reflexivo num curto espaço de tempo.

É curioso notar que nesses lugares, em que os corpos estão ali, jovens e prontos para se envolver, não existe uma regra muito clara do que pode acontecer.

As coisas parecem ser livre. Tudo parece não ter censura, não aquela de 64, mas essa, que cada um tem dentro de si e mostra ao outro quando quer.

Tudo ali parecia fácil demais, vulnerável demais, vazio demais. Uma noite que ia durar até acabar e que só traria uma solidão estranha, amiga.

A noite ia correr, leve e serena, e cada um ali, nas rodinhas cheias de burburinhos, risos e selfies, seria, em breve, apenas mais um na multidão noturna.

Passei mais uma vez, na volta para casa, em frente ao barzinho. Virei a esquina e reduzi. O lugar agora parecia triste, quase vazio.

Nada de risadas, nem luzes coloridas, nem a fumaça dos cigarros e nem as vozes alegres prontas para se libertar. O único motivo de tudo ali ainda existir era o garçom, limpando as mesas enquanto a cidade pulsava em outro lugar.

Felipe Terra Escrito por:

Professor e amante da arte literária, atua na área da educação desde 2011. Viciado na música de Bach, Mozart e Chet Baker, e na literatura de Raymond Chandler, Ross Macdonald e Paul Auster. Ama escrever e acredita que poderia ler mais, porém, precisa dormir, infelizmente. Consegue passar horas jogando pôquer ou xadrez com os amigos. Degustar pizzas de queijo e bacon é um dos passatempos prediletos em horas de fome extrema.

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